FISSURAS

Março 20 2010

 
Não são rosas, o que a rainha santa oferece ao visitante da cidade de Estremoz, situada no distrito de Évora. É, antes sim, uma cidade despida de despojos modernistas, fiel à época quinhentista que invoca. Nem as pirâmides de mármore branco que se encavalitam ao redor da cidade, rocha que caracteriza Estremoz, deixam perder o misticismo que ali mora.
É sábado, dia de mercado de antiguidades. O estacionamento parece misturar-se com as pessoas que gravitam em torno de artigos rudimentares. Palavras coladas às casas que o novo betão não demoveu deixam ler: “velharias”, “cabeleireira”, “correio”. Daquelas, à antiga, onde o Tempo estacou. Há ruas estreitas, janelas onde as vizinhas cochicham trocando segredos que rapidamente se transformam em novidade e se vão propagando pela cidade. E a rainha, atenta às muralhas erigidas à sua volta, tudo observa. Tudo absorve. E a tudo confere um toque de resistência comovente às malhas do que é novo. Desde 1336, data em que se dirige à cidade de Estremoz a fim de evitar uma guerra entre dois exércitos, que os olhos cativos da rainha santa aí repousam, parecendo proteger a cidade, imunes a qualquer indício de invasão contemporânea. E, quiçá devido a esse gesto protector, Estremoz mantém-se fiel a si mesma. E respira-se um Portugal inteiro, sem mácula.
 
publicado por Catarina Pinho às 23:03
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