A teoria de Marx… a teoria de Marx é terrífica. E tanto mais o é quanto a sociedade de hoje – que não é a sociedade do século XIX – a espelha, clara e inevitavelmente. O filósofo alemão afirma que vivemos numa ditadura de proletariado e numa sociedade capitalista, em que o capital (nome que dá título ao livro onde expõe o seu ideário) é descrito como um ditador supremo, que domina a sociedade. Esta, para o servir, deve dedicar-se a um labor exaustivo. Este carácter de monstruosidade que o capital assume – qual cifrão impugnável que exige aos seus servos o suor do seu trabalho – demonstra bem a relação sinuosa entre capital e trabalho. Uma sociedade igualitária, pedia Marx. Os trabalhadores revoltaram-se. Formaram-se partidos. O acesso a formas de reivindicação por uma sociedade mais justa tornou-se o ar que faltava. A colectividade veio, anos mais tarde, assumir-se como uma luta identitária acirrada, em várias frentes, rumo a uma contemporaneidade futura, a que presenciamos hoje. Não somos todos iguais, Marx. Nem tão-pouco temos todos direitos idênticos – embora a Constituição assim o ostente. Mas aprendemos a organizar-nos colectivamente e a responder pelos nossos direitos. Oxalá a abulia dos direitos adquiridos não engula essa forma maravilhosa de exercer democracia, pela via mais puritana – a da cidadania.