FISSURAS

Junho 18 2010

 

 

Memorial. Os olhos prescrutantes, o tom sereno. Solene. Ponderado no agir, aberto no falar. Acusado de rispidez, de apátrida: que fosse, dizia o que tinha a dizer. Liberdade de pensamento à flor da pele. Não precisava de regras: as regras, se dele precisassem, que o chamassem. Porque o texto não tem de ser todo igual; porque a ortografia que se remexe vai-se alterando e da alteração faz-se um português coerentemente seu: Saramago. Incontornavelmente, único. Morreu a palavra autêntica. Resta, agora, no convento de deuses da língua, um novo memorial.

publicado por Catarina Pinho às 14:30
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Junho 04 2010

 

Kazuo Ohno morreu no passado dia 1 de Junho. Desempenhou as funções de bailarino e coreógrafo durante mais de 50 anos, tendo deixado os palcos aos 95 anos de idade. A imagem figura na capa do álbum "The Crying Light", da autoria de Antony and the Johnsons.

 

 

Professor de Educação Física. Soldado. Prisioneiro de guerra. Experiências que passaram por uma alma em contínuo aperfeiçoamento. Pouco conhecido das massas: verdade. Mas basta ver uma imagem do bailarino nipónico para se prostrar perante a autenticidade da mesma: a expressividade com que se compunham os traços de Ohno, as rugas cravadas como rugosidades do tronco de uma árvore simultaneamente frondosa - no arrebate da dança - e seca – no lento pulsar dos sons que a incorporam, constituem sinónimo de uma natureza sem igual. Ohno entrava na dança – não se deixava dominar por ela. Poder-se-ia mesmo dizer: Ohno era dança; dança contemporânea. Essa força impetuosa durou até aos 103 anos – porque a vida cessa; porque o corpo humano cede.

Morreu um sopro de vida que era quase morte – e, por assim ser, o êxtase de uma alma que o era a mais, por a ter exposto de uma forma inexplicavelmente bela.

publicado por Catarina Pinho às 11:07
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Maio 28 2010

 

Depois de ouvir atentamente o novo álbum de originais dos The National, intitulado “High Violet”, só posso mencionar que é uma relíquia, dando assim, continuidade ao óptimo trabalho realizado até hoje. É um prazer poder desfrutar de um conjunto de músicas simplesmente excelentes, não existindo, da minha parte, espaço para uma crítica negativa visando alguma música em concreto, inserida neste cd. Apesar de gostar do todo em si, destaco algumas músicas como “Terrible Love”,  “Bloodbuzz Ohio”, “Lemonworld” e sem dúvida a minha preferida “Runaway”.

 

Sendo assim, posso afirmar, que High Violet não é uma surpresa, mas sim o esperado de uma grande banda, talvez a melhor.  Dando continuidade ao bom trabalho que tem vindo a realizar, sendo de salientar, os grandes momentos, com o grande álbum editado em 2005, "Alligator,"  passando por o soberbo “Boxer”, que no meu ver certifica os The National como uma das melhores bandas da actualidade, dando posteriormente mais um passo com a edição do LP intitulado “The Virginia EP”, e deixando uma certeza com este último álbum, assim sendo, e com uma carreira no sentido ascendente, só posso prever um grande futuro musical para estes senhores.

 

High Violet, poderá no meu ver, ser o álbum do ano, apesar de ainda ser cedo para o poder afirmar.

 

Dia 18 de Julho, temos o prazer de receber, mais uma vez, os The National em Portugal, no festival Super Bock Super Rock. Algo que não tenciono perder.

publicado por João Soares Rodrigues às 23:50

Maio 20 2010

No presente, dificilmente é possível esboçar qualquer tipo de sorriso, enquanto ouvimos um discurso do nosso Primeiro-ministro, José Sócrates.  Mas quando o mesmo, se dedica a falar em “portulhol”, num almoço debate, assim sim, torna-se quase impossível conter o riso. O resultado está a vista:

publicado por João Soares Rodrigues às 20:59

Abril 16 2010

Começou com um aviso. Um vulcão entrara em erupção num país já fragilizado economicamente, que se via agora acossado por um fenómeno natural com consequências sem precedentes. Islândia. O poço de uma civilização a quem declararam bancarrota e que se vê envolvida, agora, na origem de uma erupção vulcânica no seu próprio território. O vulcão expele cinzas que formam uma nuvem de proporções incomensuráveis, nuvem essa que se vai alastrando por toda a Europa. Resultado: voos cancelados, milhares de vidas afectadas. Porque a máquina, essa, não é perfeita. E o caos assome quando uma peça sai fora da engrenagem. Incidentes podem causar graves danos. Sobretudo quando o homem ainda não aprendeu (nem poderá fazê-lo, assim o creio) a controlar uma máquina mais poderosa do que a que ele próprio criou. E mais uma vez o ser humano se vê prostrado perante o lugar de onde provém: a Natureza, eterno deus, perante o qual ainda não aprendemos a prestar a devida vassalagem.

publicado por Catarina Pinho às 13:37
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Março 30 2010
publicado por João Soares Rodrigues às 23:21

Março 25 2010

 

Hoje foi aprovado o Plano de Estabilidade e Crescimento, com a abstenção do PSD e os votos contrários das restantes bancadas da oposição.

 

Na verdade, o PEC tinha de ser aprovado: com falhas, ou sem elas. As alternativas eram praticamente nulas, visto que o país precisa de atingir a estabilidade interna para conquistar a credibilidade internacional. Neste sentido, o PSD mostrou ser um partido responsável, premiando o interesse da nação e, só depois, o do próprio partido.

 

Mais uma vez, o BE e o PCP mostraram ser partidos do contra, ao utilizarem no seu discurso uma linguagem fora da realidade internacional, como se prova pelas várias declarações proferidas, que fazem pensar que Portugal pode viver bem sozinho, olhando só para si mesmo, o que é ,no mínimo estranho, num mundo que demanda a globalização.

 

Para finalizar, gostaria de deixar um apelo. Depois de se analisar o verdadeiro estado das contas públicas acho, no mínimo, sensato que se cessem as ideologias em torno de grandes obras públicas, que só vão endividar ainda mais o país.  Com o  conhecido aumento da divida pública, a história começa a assumir contornos muito semelhantes aos da Grécia.

 

- Será o TGV tão importante, quando por preços mais baixos conseguimos um voo para Madrid?

 

- A terceira travessia do Tejo é essencial? Quando actualmente as pessoas pagam imenso de portagens para passar a ponte 25 de Abril e a ponte Vasco da Gama, e convém frisar que não existem alternativas, daí o fundamento das portagens ser no mínimo duvidoso.

 

- Mais um aeroporto? Até poderia ser, mas de apoio ao que já existe, porque no fundo realizaram-se várias obras no actual aeroporto, para no futuro ser demolido, porque Portugal pode-se dar a esse luxo.

 

Espero que o interesse público prevaleça sobre os caprichos de algumas pessoas.

publicado por João Soares Rodrigues às 22:32
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Março 22 2010

No princípio, eram três. Três candidatos, um só lugar. Quem quer ser presidente dos EUA? – perguntava-se, pelas ruas de uma América sem norte. Não havia jornal em que não constasse a questão mais relevante: quem estará preparado para o desafio? Obama e o multiculturalismo que lhe estará sempre associado venceram. A barreira da diferença – discorde-se ou não – foi ultrapassada. Um momento histórico reacendeu a esperança numa América democrata. O sucesso da reforma na saúde, conseguido ontem, através de muito esforço – o presidente Barack Obama multiplicou-se em telefonemas a congressistas para conseguir reunir o número máximo apoios – pode muito bem ser representativo de uma conquista histórica por parte de um presidente que, até agora, não mais era do que a esperança numa América fragilizada. Agora, a esperança começa a materializar-se: a lei, a assinar terça-feira, não sendo totalmente universal, alarga o sistema para 95% da população. O seguro de saúde será obrigatório para todos os cidadãos americanos abrangidos pela reforma, já a partir de 2014, existindo também a alternativa das apólices de grupo a que os empregadores dão acesso, assim como um mercado individual. Os subsídios serão facultados aos cidadãos que não consigam suportar os custos dos seguros. Não é uma reforma perfeita. Mas é, sem dúvida, um passo seguro, que fortalece a imagem de um presidente que, ao fim de um ano e alguns meses, já faz história. Agora, Obama pode muito bem dizer: “yes, I do”.

publicado por Catarina Pinho às 18:02

Março 20 2010

 
Não são rosas, o que a rainha santa oferece ao visitante da cidade de Estremoz, situada no distrito de Évora. É, antes sim, uma cidade despida de despojos modernistas, fiel à época quinhentista que invoca. Nem as pirâmides de mármore branco que se encavalitam ao redor da cidade, rocha que caracteriza Estremoz, deixam perder o misticismo que ali mora.
É sábado, dia de mercado de antiguidades. O estacionamento parece misturar-se com as pessoas que gravitam em torno de artigos rudimentares. Palavras coladas às casas que o novo betão não demoveu deixam ler: “velharias”, “cabeleireira”, “correio”. Daquelas, à antiga, onde o Tempo estacou. Há ruas estreitas, janelas onde as vizinhas cochicham trocando segredos que rapidamente se transformam em novidade e se vão propagando pela cidade. E a rainha, atenta às muralhas erigidas à sua volta, tudo observa. Tudo absorve. E a tudo confere um toque de resistência comovente às malhas do que é novo. Desde 1336, data em que se dirige à cidade de Estremoz a fim de evitar uma guerra entre dois exércitos, que os olhos cativos da rainha santa aí repousam, parecendo proteger a cidade, imunes a qualquer indício de invasão contemporânea. E, quiçá devido a esse gesto protector, Estremoz mantém-se fiel a si mesma. E respira-se um Portugal inteiro, sem mácula.
 
publicado por Catarina Pinho às 23:03
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Março 16 2010

 

Concluído mais um congresso do PSD, o sentimento geral é de unidade. Os ex-líderes estiveram presentes, contando com a presença do hesitante professor Marcelo Rebelo de Sousa, que, com a sua comparência, contribuiu para a unidade de que o partido tanto precisa, se quer despertar do coma em que tem estado. Pode-se até questionar o porquê de ter afirmado que existe um sentido de unidade no PSD, enquanto subsistem quatro candidaturas no seio do partido; mas, ao contrário de muitas vozes dissonantes, não vejo isso como um mau sinal, mas sim como um factor positivo, dado o pluralismo que ressalta das várias alternativas à liderança do partido. Factor bem distinto da aclamada união e respeito pelo futuro líder partidário, sentimentos que, ultimamente, têm faltado ao PSD.
Aguiar-Branco                                                                                             
É a imagem da moderação, um homem bastante ponderado, uma figura que me agrada e dá a imagem de uma política séria e responsável, sem populismos. Como era de esperar, o discurso de José Pedro Aguiar-Branco, não arrebatou o público, mas teve o respeito do mesmo, proclamando a unidade do partido em torno de Portugal. No meu ver, é esse mesmo o espírito inerente à figura de Aguiar-Branco, o candidato que se demarca pelo respeito e ponderação, não aderindo a extremismos somente para se promover a si e ao partido, e tem demonstrado todos esses atributos enquanto líder da bancada parlamentar. Apesar de tudo o que disse, não acredito que consiga ser o vencedor; o PSD precisa de união e ponderação, mas não será suficiente para que o candidato consiga a maioria dos votos; de facto, existe um claro respeito e consideração pela pessoa de Aguiar-Branco, mas falta-lhe algo mais (carisma?).      
 Castanheira Barros
 Sobre este candidato, apenas posso dar o mérito por ter consigo as assinaturas necessárias, e por lutar por algo que acredita, de resto, não creio que consiga uma votação sequer relevante para acreditar tão-pouco numa possível candidatura no futuro.
 Paulo Rangel
Para mim, a ideologia inerente a este candidato é muito semelhante à de Aguiar-Branco, contudo, considero Paulo Rangel um pouco mais extremista e com maior vivacidade nos discursos que profere. É o único dos quatro candidatos que teve uma vitória segura sobre o PS nas europeias. O seu discurso ficou marcado pela frase “Portugal precisa de uma verdadeira dessocratização”. Na sua intervenção, conseguiu agradar, arrancando vários aplausos, demonstrando tratar-se de um potencial candidato à vitória. Importa ainda realçar que, no seu discurso, teve a coragem de defender uma revisão constitucional que comece por reformar a forma como a justiça funciona. Um homem extremamente inteligente, e decerto uma grande individualidade para governar os destinos do partido e da nação.
 Pedro Passos Coelho
Fez um discurso brilhante, coerente e seguro. Foi o candidato mais aplaudido e, como tal, deu um grande passo para a vitória final. É o candidato que, na minha opinião, o PSD precisa: uma pessoa jovem, dinâmica, coerente, pragmática, bom orador e com garra para elevar o partido ao níveis conseguidos anteriormente. Para mim será o vencedor no dia 26.
Em jeito de resumo, dos quatro candidatos, três deles são muito bons, e como tal, qualquer um poderia ser líder do PSD, embora, na fase que o partido atravessa, o melhor será mesmo renovar-se com alguém jovem e dinâmico, para que no fundo se renove um partido, que ultimamente tem estado conotado aos ‘velhos barões’, que não conseguem despertar um sentimento de rejuvenescimento. Assim sendo, tanto Rangel como Passos Coelho, são caras que vão trazer juventude e novas ideias ao partido. Embora acredite mais na candidatura de Pedro Passos Coelho, séria óptimo a coexistência de várias figuras em torno da qualidade e união futura do partido, independentemente da vitória de um ou de outro.              
 

 

 

publicado por João Soares Rodrigues às 22:14
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Março 15 2010

 

É mais do que evidente: as palavras e a atribuição do seu significado, são, no mundo de Alice, uma das características chave de um filme que pouco mais acrescenta à história da Disney per si  (para além da evidente passagem do tempo) e em que o nonsense se torna, de repente, palco de uma história que poderia muito bem ser uma história banal de um sonho, mas que é inversamente proporcional à normalidade das coisas. Confuso? Pode muito bem acontecer. No mundo de Alice, não há verdades feitas. Tudo é passível de ser transfigurado. A exploração do absurdo parece questionar o absurdo em si, obrigando à procura de significados que escondem mais do que simples palavras. E é isso que torna o filme ‘burtoniano’ anormalmente interessante: o enigma, o mistério, o cenário tipicamente gótico a que Burton já nos habituou, a sensação de estranheza e hilaridade; tudo isso nos fascina, de certa forma. E o realizador indomável, aproveitando esse mistério de que as aventuras de Carrol se fazem acompanhar, molda as personagens ao seu mundo, caricaturando-as excentricamente, deformando-as a seu belo prazer (veja-se a vilã Rainha das Copas e o seu séquito de acompanhantes). É esse rasgo de percepção de um mundo aquém da indústria pré-configurada que imputa essa tónica de rebeldia nos seus filmes. Porque o mistério e o insólito jogam sempre bem. E quem mais do que Burton para entender isso, jogando a seu favor uma Disney que já se rendeu a um estilo muito próprio. 

 

 

publicado por Catarina Pinho às 23:35
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Março 11 2010

Já li, em diversos jornais, crónicas não pouco arrebatadas que têm como base a mais recente investigação levada a cabo pela Secção Portuguesa da Transparency International. O estudo intitula-se "Corrupção e os portugueses: Atitudes, práticas e valores" e serve de âncora à estupefacção generalizada, originada por dados relevantes: os resultados, apresentados pelo investigador Luís de Sousa, dão conta do facto de que os portugueses são coniventes com a corrupção; isto é, apercebem-se da sua existência, e condenam-na oficialmente, mas, na prática, não oferecem outra resposta que não a passividade, acabando mesmo por pactuar com ela, em actos como as famosas "cunhas" ou até em casos mais graves, como subornos, conforme adiantou Luís  de Sousa à agência Lusa. Co-responsáveis pelo funcionamento e manutenção do sistema? Cada um tire as suas próprias conclusões.

 

publicado por Catarina Pinho às 15:05
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Março 03 2010

 

VS

 

 

 

“Novo Conceito, novo local, novo cartaz”, foi assim que a Música no Coração anunciou o festival Super Bock Super Rock 2010. Ao ler a notícia associei ao magnífico cartaz apresentado no ano de 2007, que incluía grandes bandas, nomeadamente, LCD Soundsystem, Clap Your Hands Say Yeah, Interpol, TV On The Radio, Arcade Fire, Bloc Party, The Magic Numbers, Klaxons, entre outras, optando claramente pela qualidade e não pelo que é genericamente conhecido ou dado a conhecer. Depois do fracasso que, no meu ver, foi o cartaz do ano transacto, espero um regresso ao passado e a qualidade, daí ser razoável apostar que os dois grandes festivais este ano serão o Super Bock e Optimus Alive, o primeiro por tudo o que já foi, e o segundo por a continuidade, afirmando-se como o melhor festival em Portugal.
Até a presente data, ainda se sabe muito pouco, mas é com agrado que vejo a presença dos magníficos LCD Soundsystem, e ainda a revelação do ano passado The xx, no Optimus Alive. Quanto ao Super Bock Super Rock conta já com a presença dos meus queridos The National, que mais uma vez voltam a Portugal, desta feita apresentando já o seu novo trabalho, é ainda de realçar a presença dos Cut Copy, no referido festival.
Sendo assim, façam-se apostas para saber qual dos dois  poderá apresentar melhor cartaz. Até a presente data o Optimus Alive leva uma clara vantagem.
Da minha parte deixo aqui sugestões de bandas que gostava de ver confirmadas: Interpol; Okkervil River; Band Of Horses; Arcade Fire; Beach House; I´m from Barcelona; The Decemberists; The Futureheads; The Rural Alberta Advantage; entre muitas outras…

 

 

publicado por João Soares Rodrigues às 22:11
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Fevereiro 21 2010

publicado por João Soares Rodrigues às 16:29
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Fevereiro 18 2010

  Muito se tem falado de "liberdade de expressão". Independentemente do real cenário que estejamos a enfrentar - porque até agora, não se trata, nada mais nada menos, do que uma nuvem dispersa sobre diz que disse, sobre acusações - infundadas ou não, não o sabemos, a justiça o determinará - o fundamental é conseguirmos atingir esse estádio tão simples mas ultimamente tão longínquo - o respeito mútuo. E isso passa por, sempre que opinamos, clarificarmos as justificações que tal juízo de valor comporta. Isto porque a liberdade não pode ser vista de forma alienada, como um direito perdido num saco dos curtos benefícios a que, pensamos, ainda nos dão acesso. Esta deve ser encarada como um desafio, de forma a fazermos mais e melhor; devemos apontar os erros, é certo, mas aprender também a reconhecer o que de correcto se faz. Para que saibamos ajustar, com justa medida, os dois pratos da balança.

publicado por Catarina Pinho às 16:17
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Janeiro 21 2010

 

A teoria de Marx… a teoria de Marx é terrífica. E tanto mais o é quanto a sociedade de hoje – que não é a sociedade do século XIX – a espelha, clara e inevitavelmente. O filósofo alemão afirma que vivemos numa ditadura de proletariado e numa sociedade capitalista, em que o capital (nome que dá título ao livro onde expõe o seu ideário) é descrito como um ditador supremo, que domina a sociedade. Esta, para o servir, deve dedicar-se a um labor exaustivo. Este carácter de monstruosidade que o capital assume – qual cifrão impugnável que exige aos seus servos o suor do seu trabalho – demonstra bem a relação sinuosa entre capital e trabalho. Uma sociedade igualitária, pedia Marx. Os trabalhadores revoltaram-se. Formaram-se partidos. O acesso a formas de reivindicação por uma sociedade mais justa tornou-se o ar que faltava. A colectividade veio, anos mais tarde, assumir-se como uma luta identitária acirrada, em várias frentes, rumo a uma contemporaneidade futura, a que presenciamos hoje. Não somos todos iguais, Marx. Nem tão-pouco temos todos direitos idênticos – embora a Constituição assim o ostente. Mas aprendemos a organizar-nos colectivamente e a responder pelos nossos direitos. Oxalá a abulia dos direitos adquiridos não engula essa forma maravilhosa de exercer democracia, pela via mais puritana – a da cidadania. 

 

 

 

publicado por Catarina Pinho às 23:24
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Janeiro 13 2010

 

Pessoas vagueiam pelos escombros. Há gente ainda soterrada. Há quem pergunte a Deus “porquê nós?” . Uma mulher leva a filha pelo colo, sem saber bem para onde vai, para onde ir. Em todo o lado há uma espécie de grito omnipresente que ecoa através das imagens que chegam pela TV e pela Internet. Em todo o lado ouvimos esse grito lancinante, ensurdecedor, o culminar do império do caos. Caos que é total, que invade um dos países mais pobres do mundo. “Continuo a perguntar, porquê nós, os haitianos?” – a pergunta ressoa pelo espectro do aparelho televisivo. Tenho a impressão que não é ela que deveria estar ali, a perguntar aquilo. Tenho a impressão de que o caos não é só o sismo de magnitude 7 na escala de Richter, um dos 15 mais intensos de todos os tempos, que incidiu num dos países mais pobres do mundo, o Haiti, agora derrubado pela Natureza. Tenho a impressão de que a pergunta “porquê nós?” ressoa em mim, parte daqueles que passaram ao lado da tragédia. E essa impressão torna-se uma certeza e essa certeza vai estrangulando todas as certezas, até que a imagem da haitiana no centro da televisão não pára de me perseguir e só penso - que nojo de mundo.

 

 

 

publicado por Catarina Pinho às 15:27
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